O uso da BMP-2 em implantes dentários - Reportagem do Jornal APCD
Reportagem do Jornal APCD - Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas Julho/2009
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Engenharia genética é a nova aposta para o sucesso de implantes dentários
A proteína óssea BPM-2, capaz de transformar células-tronco em células específicas para a formação óssea, agora, pode ser usada na Odontologia e tornar o enxerto desnecessário na reabilitação oral
Por Bruna Oliveira / Colaboração de Mariana Pantano
De acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, 26 milhões de brasileiros não têm mais nenhum dente natural na boca. A falta de dentes diminui a capacidade de mastigação, compromete a aparência e a auto-estima das pessoas. Com isso, um número cada vez maior de brasileiros recorre a tratamentos dentários na busca de um sorriso perfeito. Estatísticas do IBGE demonstram que a popularização dos implantes dentários vem mantendo um crescimento anual de 20% ao longo dos últimos anos.
Considerado uma solução avançada, o implante dentário consiste em uma estrutura metálica que pode substituir a raiz do dente perdido. Porém, novas técnicas de reabilitação oral estão surgindo e são responsáveis por permitir uma concordância necessária entre a estética facial e a composição dentária e funcional da boca. A Engenharia Genética, com novas descobertas, revoluciona a prática de implantes dentários e estende os benefícios aos pacientes.
Para fazer a instalação de um novo dente, é necessário haver uma quantidade óssea mínima disponível. Mas, nem sempre isso é possível. As deficiências ósseas podem ocorrer de diferentes etiologias procedentes, principalmente de cistos e lesões endodônticas ou periodontais, fatores iatrogênicos (doenças ou alterações patológicas causadas por efeitos de medicamentos), pela ausência dentária e atrofia do desuso, deformidades de desenvolvimento etc. “A melhor solução para a perda óssea, segundo a literatura, é o enxerto ósseo autógeno. Entretanto, existe um certo desconforto da remoção de um fragmento de osso de outra região do paciente, aumentando a morbidade da cirurgia e o desconforto pós-operatório”, explica o Cirurgião-Dentista especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial e doutor em Implantodontia, André Zétola.
Em 1965, o pesquisador Marshall Urist, da Universidade da Califórnia, Estados Unidos, isolou uma proteína responsável pela formação óssea; a Proteína Óssea Morfogenética (BMP). Essa proteína é capaz de induzir a transformação de células primitivas em células capazes de formar o osso. As BMP`s são fundamentais para a reparação das fraturas e durante o desenvolvimento do esqueleto ósseo. Por meio de um intenso trabalho de pesquisa em Engenharia Genética, pesquisadores conseguiram isolar a principal proteína para a regeneração óssea, a morfogenética tipo 2 (BMP-2), e derivaram, também, sinteticamente, esse componente (rhBMP-2), chamada proteína recombinante morfogenética. A BMP atua na região implantada, transformando célulastronco em células específicas para a formação óssea, induzindo à recuperação do tecido ósseo, tornando o enxerto desnecessário.
Segundo André Zétola, as vantagens de se usar esse método é que não há necessidade de uma área doadora. “Não existe nenhum quadro de dor, pois o procedimento cirúrgico é muito simples e rápido. A grande vantagem para a isenção da dor é a ausência das células doadoras que, normalmente, são as grandes vilãs dos enxertos ósseos, a quais trazem uma sensibilidade maior e até mesmo o risco de uma parestesia indesejável”, explica ele. Durante a cirurgia, a BMP é mergulhada na estrutura óssea com uma esponja absorvível de colágeno que, depois de um tempo, será reabsorvida ou desaparecerá no organismo. Ao mesmo tempo em que essa esponja se dissolve, a BMP estimula as células a produzirem novos tecidos ósseos e se dá o processo de cicatrização. “Esse método tem menor tempo de cirurgia, não há necessidade de retirar o osso do próprio paciente, o que significa menor morbidade. O Pac (Periodontite Apical Crônica) será menos ‘invandido’ e a recuperação do paciente é mais rápida e mais tranqüila”, garante o Cirurgião-Dentista especialista em Implantodontia e diretor da Smiling Dental Care, Marcelo Rezende.
Para o Cirurgião-Dentista André Zétola, como existe apenas a neoformação óssea, pois a rhBMP-2 é extremamente osseoindutora, “não é necessário reabsorver nenhum osso ou biomaterial para haver a sua incorporação, sendo assim, é um procedimento muito rápido e previsível. Ela é produzida sinteticamente em laboratório, então não existe o risco de transmissão de doenças. Além disso, pode ser produzida em larga escala, podendo atender qualquer demanda”, explica ele.
Devido ao sucesso da proteína morfogenética para a reconstrução dos defeitos alvolares e elevação do seio maxilar, a BPM-2 está sendo utilizada, agora, nos casos de grandes defeitos da face. Casos que antigamente necessitavam de uma cirurgia de cinco a oito horas para a resolução, com a remoção de grande quantidade de osso de outra área como o quadril, a tíbia ou até mesmo de calota craniana, hoje podem ser resolvidos na metade do tempo e com bastante previsibilidade e segurança.
A reconstrução do osso através da proteína BMP-2 demora, normalmente, de cinco a seis meses, que é o tempo sufi ciente para que haja a neoformação óssea. “A rhBMP-2 faz parte da família dos grandes fatores de crescimento. Sendo assim, tem um grande potencial ósseo indutor, ao contrário dos outros biomateriais que têm capacidade osseocondutora e necessitam de um maior tempo para reparação óssea, podendo levar até anos para ter a sua completa incorporação”, diz Zétola.
Essa solução menos traumática e com melhores resultados para os portadores de deficiências ósseas já existe, pois os recursos da Engenharia Genética já estão disponíveis ao Cirurgião-Dentista. A técnica foi aprovada pela Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - para aplicação em pacientes no Brasil. Segundo André Zétola, é uma verdadeira revolução para os implantes. “Faço implantes há mais de 17 anos, tenho mais de 6 mil implantes colocados e já utilizei diversos tipos de materiais. De lá para cá, nunca vi nada igual. Fiquei impressionado desde o primeiro caso que fi zemos sua utilização”, afirmou o Cirurgião-Dentista.
Fotos: arquivo pessoal André Zétola
Aspecto pré-operatório de um rebordo alveolar atrófico com perda de espessura e altura. Uma atrofia severa de maxila, onde a indicação inicial era um enxerto com osso autógeno da crista ilíaca ou da calota craniana
Aspecto do rebordo no pós-operatório de seis meses após reconstrução com enxerto da Proteína Morfogenética Sintética associada ao osso cerâmico
Aspecto pré-operatório da face de uma paciente com atrofia severa de maxila. Percebe-se como os sulcos da expressão facial se acentuam devido à ausência óssea
Aspecto pós-operatório da mesma paciente com a reconstrução óssea através da rhBMP-2 e do osso cerâmico
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